04/06/2003 - 19h23
Rombo do Bamerindus chega a R$ 5,7 bilhões
Investnews - Gazeta Mercantil
"Esse Bamerindus!..." Depois de um penoso processo de intervenção e liquidação, que já dura sete anos, o banco contabiliza um rombo de R$ 5,697 bilhões nos setores público e privado. Deixou 53 mil acionistas minoritários no prejuízo, um efeito devastador na auto-estima da economia paranaense, origem do banco, e uma lacuna no mercado ao desaparecer da posição de terceiro maior banco brasileiro. Depois de uma trajetória de sucesso e da incorporação de cem outras instituições financeiras nas cinco décadas anteriores à liquidação, o Bamerindus ou vai a falência - e os credores não recebem mais nada - ou a liquidação extrajudicial se transforma em liquidação ordinária na mão do maior credor que é o Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Sérgio Rodrigues Prates, funcionário do Banco Central (BC) responsável pela liquidação extrajudicial do Bamerindus, tenta, sem êxito, receber integralmente os R$ 10 bilhões de empréstimos com juros estratosféricos, distribuídos em 85 mil operações de cobrança ou 16 mil processos que tramitam nas varas do Judiciário. "Acreditamos que estas ações de cobrança podem levar de seis a oito anos e o que podemos recuperar será insuficiente para honrar os passivos dos credores preferenciais", diz Prates.
Preocupado em encontrar um saída, o Diretor de Liquidação e Desestatização (Delid) do BC, Gustavo do Vale, deve promover um encontro entre acionistas, credores e o FGC para preparar que decisões tomar diante das alternativas postas à mesa - decretar a falência do Bamerindus ou transformar da liquidação extrajudicial em ordinária.
A alternativa de repassar ao fundo agrada a acionistas minoritários, majoritários, credores e até mesmo ao liquidante do Bamerindus, em função da situação patrimonial falimentar do banco. "A carteira de crédito, que se constitui no ativo de maior complexidade administrativa, está vencida e é de difícil realização, tendo em vista o elevado percentual de operações sem garantia", diz Prates. "Há um contencioso de processos ajuizados, cujos trâmites ficam sujeitos ao crivo do Judiciário e em prazos que já chegam a sete anos."
A estimativa mais otimista do interventor do Bamerindus é de que seja possível recuperar R$ 1 bilhão destes créditos no processo de liquidação extrajudicial. No caso da decretação da falência, praticamente tudo virá pó. Mas, na hipótese de esses créditos ficarem com o FGC, a recuperação poderia ser maior, uma vez que o fundo teria amparo legal para renegociar os valores em novas bases. É que a maior parte da carteira de empréstimos concedidos pelo Bamerindus, sete anos atrás, foi liberada com taxas de juros que beiravam os 105% ao ano. A dívida, para os casos onde há garantias, é maior do que o valor do bem. A saída seria renegociar os financiamentos em novas condições para que possam ser pagos imediatamente.
"É uma proposta que satisfaz aos minoritários, uma vez que receberemos alguma coisa", afirma Euclides Ribas, presidente da Associação dos Minoritários do Bamerindus, entidade que reúne milhares de pequenos investidores, em especial de Tomazina (PR), cidade onde o banco foi fundado, em 1951, a partir de uma cooperativa de produtores de café. "Com a decretação de falência, o BC recebe tudo e nós não ficamos com nada." Ele estima em R$ 120 milhões o que os minoritários teriam a receber, tendo como referência a cotação das ações a R$ 12,90 no dia da intervenção. Ribas, amparado pelo senador, Flávio Arns (PT-PR), conversou com Gustavo Vale, do BC, em Brasília, sobre a dramática situação dos minoritários e pediu urgência em uma solução.
Créditos de R$ 10 bi
João Vieira, acionista majoritário, acredita que o Fundo Garantidor, na condição de maior credor do Bamerindus, é quem deveria conduzir esta liquidação. "O FGC passa a contar com mais autonomia do que a lei impõe ao atual liquidante, de negociar a recuperação dos créditos ou vendê-los a terceiros."
Segundo o banqueiro, quando houve intervenção no Bamerindus, as grandes e médias empresas, que usufruíam das linhas de crédito do banco, procuraram postergar o pagamento o quanto puderam. Uma parte desta carteira, de R$ 10 bilhões, que o HSBC recusou-se a receber, na ocasião, referia-se a empréstimos que não tinham vencido. "Hoje é preciso negociar os créditos com as empresas em patamares novos e receber de uma vez", acrescenta Vieira.
Outros acionistas majoritários, consultados pelo FGC, ficariam igualmente satisfeitos com a alternativa. É o caso do ex-presidente do Bamerindus e da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Maurício Schulmann, que ajudou a construir a proposta. A idéia é que os acionistas majoritários transfiram suas ações ao fundo para que ele possa dar curso a um processo de liquidação e realizar o ajuste dos prejuízos que restarem, junto ao Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Quem comprar poderá abater este prejuízo na proporção de 30% ao ano, a exemplo do que ocorreu com a venda do Banestado ao Itaú.
"Tudo que houver para acabar a liquidação agrada. Depois de sete anos, continuo com constrangimentos financeiros e pessoal. Não posso abrir uma conta em banco, só posso movimentar rendimentos de salários", diz um dos acionistas do Bamerindus. Os principais acionistas são membros da família. A controladora é a Bamerindus Participações S.A. Dela participam João Vieira, representando um grupo de acionistas, com 18,5%; José Eduardo Vieira, com 3,7%; Sociedade Mercantil, com 5,5%; Fundação Bamerindus com 26,6%; e a empresa Bastec, com 45,7%.
Prates considera que a opção pelo FGC seria uma boa saída para o próprio BC, que é credor preferencial de R$ 2,53 bilhões de recursos que o Bamerindus sacou no interbancário no seus últimos dias. É que este dinheiro é corrigido pela variação da Taxa Referencial (TR), em torno de 8% ao ano, enquanto o R$ 1,78 bilhão aplicado pelo liquidante do Bamerindus rende os 26,5% ao ano da Selic.
É obvio que esta diferença é apenas contábil e que não há recursos suficientes para cobrir todas as obrigações. A liquidação do Bamerindus, nas mãos do FGC, seria aos moldes de um regime de privatização. O fundo teria que pagar, primeiro, o BC, a Receita Federal, as obrigações trabalhistas e as provisões fiscais.
Depois, do que sobrar, paga a Caixa Econômica Federal, o BNDES, acionistas minoritários (se entrarem no acordo) e outros credores. O FGC - que tenta receber a maior fatia, de R$ 3,84 bilhões, do Bamerindus - passa a ser o último da fila. Na condição de seguradora do sistema financeiro, como de fato é ao cobrar, anualmente, 0,30% de compulsório sobre depósito à vista, pode adotar duas alternativas diante de um sinistro: ou cobre integralmente os prejuízos apontados pelo BC ou assume a responsabilidade em identificar os créditos que possam ser cobrados e os prejuízos a serem pagos.kicker: Estimativa otimista de liquidante nomeado pelo BC é recuperar até R$ 1 bilhão.
Ativos incluem 66 mil hectares de terra no País
O Bamerindus possui 66,5 mil hectares de terra em todo o Brasil e milhares de outros bens que poderiam ser vendidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O fundo teria condições legais de, mais rápido e com melhores resultados financeiros, conseguir dar um destino para a massa da instituição e de outros valiosos bens, como a própria marca e os famosos slogans do banco, que estão virando poeira neste longo processo.
Quem não se lembra do falecido ator Toni Lopes, entrando no horário nobre da TV Globo, com a frase: "Esse Bamerindus !...", como um banco que sempre estava inovando em serviços e trazendo vantagens aos seus correntistas? Ou do programa "Gente que Faz", uma série única que durou quatro anos e três meses, e, aos sábados, apresentava cases de pessoas do Brasil inteiro que faziam sucesso com seus empreendimentos? Dos slogans "Banco da nossa terra" e "Verde da terra", todos criados pelo publicitário Sérgio Reis ?
"O Bamerindus nasceu no interior do Paraná e precisa crescer nos grandes centros para consolidar-se. O banco conseguiu ser a terceira maior instituição financeira do Brasil em todos os aspectos, inclusive em investimentos publicitários", disse Reis à época, referindo-se ao prestígio alcançado pela marca Bamerindus.
Todos estas frases famosas, que estão registradas em nome do banco em liquidação, teriam, em tese, um valor no mercado pela lembrança junto ao público. Hoje, no entanto, não têm valor nenhum. Além disso, a marca Bamerindus, que ficou com o HSBC, deixou de ser utilizada e acabou caindo no esquecimento.
Até aqui os administradores do processo de liquidação do Bamerindus conseguiram, nestes seis anos de intervenção, levantar recursos com a venda de bens que estavam em poder da instituição. Ao todo, foram realizados leilões de venda de 2.175 imóveis e 3.629 bens móveis, arrecadando R$ 279 milhões.
Os advogados do banco acompanham 16 mil processos judiciais, para receber créditos ou bens que possam ir a leilão em disputadas sessões que correm em todas as instâncias do Poder Judiciário. A realidade é que o Bamerindus contabilizava, em abril último, um patrimônio a descoberto de R$ 5,7 bilhões. Esta é a diferença entre os R$ 7,8 bilhões de dívidas junto ao mercado e os R$ 2,1 bilhões em ativos que ainda possui.
Sérgio Rodrigues Prates, funcionário do Banco Central (BC) responsável pela liquidação extrajudicial do Bamerindus, tenta, sem êxito, receber integralmente os R$ 10 bilhões de empréstimos com juros estratosféricos, distribuídos em 85 mil operações de cobrança ou 16 mil processos que tramitam nas varas do Judiciário. "Acreditamos que estas ações de cobrança podem levar de seis a oito anos e o que podemos recuperar será insuficiente para honrar os passivos dos credores preferenciais", diz Prates.
Preocupado em encontrar um saída, o Diretor de Liquidação e Desestatização (Delid) do BC, Gustavo do Vale, deve promover um encontro entre acionistas, credores e o FGC para preparar que decisões tomar diante das alternativas postas à mesa - decretar a falência do Bamerindus ou transformar da liquidação extrajudicial em ordinária.
A alternativa de repassar ao fundo agrada a acionistas minoritários, majoritários, credores e até mesmo ao liquidante do Bamerindus, em função da situação patrimonial falimentar do banco. "A carteira de crédito, que se constitui no ativo de maior complexidade administrativa, está vencida e é de difícil realização, tendo em vista o elevado percentual de operações sem garantia", diz Prates. "Há um contencioso de processos ajuizados, cujos trâmites ficam sujeitos ao crivo do Judiciário e em prazos que já chegam a sete anos."
A estimativa mais otimista do interventor do Bamerindus é de que seja possível recuperar R$ 1 bilhão destes créditos no processo de liquidação extrajudicial. No caso da decretação da falência, praticamente tudo virá pó. Mas, na hipótese de esses créditos ficarem com o FGC, a recuperação poderia ser maior, uma vez que o fundo teria amparo legal para renegociar os valores em novas bases. É que a maior parte da carteira de empréstimos concedidos pelo Bamerindus, sete anos atrás, foi liberada com taxas de juros que beiravam os 105% ao ano. A dívida, para os casos onde há garantias, é maior do que o valor do bem. A saída seria renegociar os financiamentos em novas condições para que possam ser pagos imediatamente.
"É uma proposta que satisfaz aos minoritários, uma vez que receberemos alguma coisa", afirma Euclides Ribas, presidente da Associação dos Minoritários do Bamerindus, entidade que reúne milhares de pequenos investidores, em especial de Tomazina (PR), cidade onde o banco foi fundado, em 1951, a partir de uma cooperativa de produtores de café. "Com a decretação de falência, o BC recebe tudo e nós não ficamos com nada." Ele estima em R$ 120 milhões o que os minoritários teriam a receber, tendo como referência a cotação das ações a R$ 12,90 no dia da intervenção. Ribas, amparado pelo senador, Flávio Arns (PT-PR), conversou com Gustavo Vale, do BC, em Brasília, sobre a dramática situação dos minoritários e pediu urgência em uma solução.
Créditos de R$ 10 bi
João Vieira, acionista majoritário, acredita que o Fundo Garantidor, na condição de maior credor do Bamerindus, é quem deveria conduzir esta liquidação. "O FGC passa a contar com mais autonomia do que a lei impõe ao atual liquidante, de negociar a recuperação dos créditos ou vendê-los a terceiros."
Segundo o banqueiro, quando houve intervenção no Bamerindus, as grandes e médias empresas, que usufruíam das linhas de crédito do banco, procuraram postergar o pagamento o quanto puderam. Uma parte desta carteira, de R$ 10 bilhões, que o HSBC recusou-se a receber, na ocasião, referia-se a empréstimos que não tinham vencido. "Hoje é preciso negociar os créditos com as empresas em patamares novos e receber de uma vez", acrescenta Vieira.
Outros acionistas majoritários, consultados pelo FGC, ficariam igualmente satisfeitos com a alternativa. É o caso do ex-presidente do Bamerindus e da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Maurício Schulmann, que ajudou a construir a proposta. A idéia é que os acionistas majoritários transfiram suas ações ao fundo para que ele possa dar curso a um processo de liquidação e realizar o ajuste dos prejuízos que restarem, junto ao Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Quem comprar poderá abater este prejuízo na proporção de 30% ao ano, a exemplo do que ocorreu com a venda do Banestado ao Itaú.
"Tudo que houver para acabar a liquidação agrada. Depois de sete anos, continuo com constrangimentos financeiros e pessoal. Não posso abrir uma conta em banco, só posso movimentar rendimentos de salários", diz um dos acionistas do Bamerindus. Os principais acionistas são membros da família. A controladora é a Bamerindus Participações S.A. Dela participam João Vieira, representando um grupo de acionistas, com 18,5%; José Eduardo Vieira, com 3,7%; Sociedade Mercantil, com 5,5%; Fundação Bamerindus com 26,6%; e a empresa Bastec, com 45,7%.
Prates considera que a opção pelo FGC seria uma boa saída para o próprio BC, que é credor preferencial de R$ 2,53 bilhões de recursos que o Bamerindus sacou no interbancário no seus últimos dias. É que este dinheiro é corrigido pela variação da Taxa Referencial (TR), em torno de 8% ao ano, enquanto o R$ 1,78 bilhão aplicado pelo liquidante do Bamerindus rende os 26,5% ao ano da Selic.
É obvio que esta diferença é apenas contábil e que não há recursos suficientes para cobrir todas as obrigações. A liquidação do Bamerindus, nas mãos do FGC, seria aos moldes de um regime de privatização. O fundo teria que pagar, primeiro, o BC, a Receita Federal, as obrigações trabalhistas e as provisões fiscais.
Depois, do que sobrar, paga a Caixa Econômica Federal, o BNDES, acionistas minoritários (se entrarem no acordo) e outros credores. O FGC - que tenta receber a maior fatia, de R$ 3,84 bilhões, do Bamerindus - passa a ser o último da fila. Na condição de seguradora do sistema financeiro, como de fato é ao cobrar, anualmente, 0,30% de compulsório sobre depósito à vista, pode adotar duas alternativas diante de um sinistro: ou cobre integralmente os prejuízos apontados pelo BC ou assume a responsabilidade em identificar os créditos que possam ser cobrados e os prejuízos a serem pagos.kicker: Estimativa otimista de liquidante nomeado pelo BC é recuperar até R$ 1 bilhão.
Ativos incluem 66 mil hectares de terra no País
O Bamerindus possui 66,5 mil hectares de terra em todo o Brasil e milhares de outros bens que poderiam ser vendidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O fundo teria condições legais de, mais rápido e com melhores resultados financeiros, conseguir dar um destino para a massa da instituição e de outros valiosos bens, como a própria marca e os famosos slogans do banco, que estão virando poeira neste longo processo.
Quem não se lembra do falecido ator Toni Lopes, entrando no horário nobre da TV Globo, com a frase: "Esse Bamerindus !...", como um banco que sempre estava inovando em serviços e trazendo vantagens aos seus correntistas? Ou do programa "Gente que Faz", uma série única que durou quatro anos e três meses, e, aos sábados, apresentava cases de pessoas do Brasil inteiro que faziam sucesso com seus empreendimentos? Dos slogans "Banco da nossa terra" e "Verde da terra", todos criados pelo publicitário Sérgio Reis ?
"O Bamerindus nasceu no interior do Paraná e precisa crescer nos grandes centros para consolidar-se. O banco conseguiu ser a terceira maior instituição financeira do Brasil em todos os aspectos, inclusive em investimentos publicitários", disse Reis à época, referindo-se ao prestígio alcançado pela marca Bamerindus.
Todos estas frases famosas, que estão registradas em nome do banco em liquidação, teriam, em tese, um valor no mercado pela lembrança junto ao público. Hoje, no entanto, não têm valor nenhum. Além disso, a marca Bamerindus, que ficou com o HSBC, deixou de ser utilizada e acabou caindo no esquecimento.
Até aqui os administradores do processo de liquidação do Bamerindus conseguiram, nestes seis anos de intervenção, levantar recursos com a venda de bens que estavam em poder da instituição. Ao todo, foram realizados leilões de venda de 2.175 imóveis e 3.629 bens móveis, arrecadando R$ 279 milhões.
Os advogados do banco acompanham 16 mil processos judiciais, para receber créditos ou bens que possam ir a leilão em disputadas sessões que correm em todas as instâncias do Poder Judiciário. A realidade é que o Bamerindus contabilizava, em abril último, um patrimônio a descoberto de R$ 5,7 bilhões. Esta é a diferença entre os R$ 7,8 bilhões de dívidas junto ao mercado e os R$ 2,1 bilhões em ativos que ainda possui.
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